Manoel de Barros nasceu em Cuiabá-MT, em 1916. Até os 17 anos viveu entre a casa da família e um internato, onde iniciou os estudos. Sua vida acadêmica se passou na cidade do Rio de Janeiro, onde ficou até se formar bacharel em Direito, em 1941. Viveu também em Nova Iorque, Paris, Itália e Portugal.
Conheceu Stella, sua esposa e com ela voltou para o Pantanal-MS, para assumir uma fazenda de gado que recebera de herança, passando a dividir seu tempo entre o Rio de Janeiro e o Pantanal. Ainda que, nesta época, vivesse afastado dos círculos literários, sua poesia já vinha tomando corpo.
Pertencente à geração de 45, onde despontaram os grandes poetas brasileiros da metade do século XX, Manoel constrói uma linguagem inovadora, que chega ao limite da agramaticalidade, cheia de neologismos e, ao mesmo tempo, remetendo a língua portuguesa às suas raízes mais profundas.
A profunda correlação da fala poética com as imagens visuais, vem de sua leitura do Pe. Antonio Vieira: “eu aprendera em Vieira que as imagens pintadas com palavras eram para se ver de ouvir”.
Jorge La Rossa, escritor espanhol e tradutor da obra de Manoel, fala com propriedade de sua criação poética: “A obra de Barros é inexplicável como o milagre, como qualquer obra de arte quando é genuína. É um poeta por necessidade, por dom ... Do estado de ruina do mundo, à inevitável fragmentação do sujeito, sua obra reflete o desmoronamento de uma cultura e de uma forma de humanidade. Seu universo pantaneiro aparece poeticamente filtrado por pontos de vista humanos, animais, vegetais e minerais altamente elaborados: um mundo intocado e profundamente humanizado, um mundo poético, encantado”.
Manoel cria uma relação única com a linguagem e o mundo. Uma linguagem que desobedece, a seu modo, e que tem um mundo concreto que brinca a seu modo. Enfim, um poeta singular!
“O que escrevo resulta de meus armazenamentos ancestrais e de meus envolvimentos com a vida. Sou filho e neto de bugres, andarejos e portugueses melancólicos. Minha infância levei com árvores e bichos do chão. Penso que a leitura e a frequentação das artes desabrocha a imaginação para um mundo mais puro. Acho que uma inocência infantil nas palavras é salutar diante do mundo tão tecnocrata e impuro. Acho mais pura a palavra do poeta que é sempre inocente e pobre”. – Manoel de Barros.
Cronologia
1916- Nasce Manoel Wenceslau Leite de Barros, em 19 de dezembro, no Beco da Marinha, em Cuiabá (MT), segundo filho de João Leite de Barros e Alice Pompeu Leite de Barros. Após dois meses, a família fixa residência em Corumbá e depois numa fazenda na Nhecolândia, no Pantanal mato-grossense.
1922- Começa a ser alfabetizado pela tia, Rosa Pompeu de Campos.
1925-1928- Completa os estudos primários em um internato em Campo Grande.
1928-1934- Muda-se para o Rio de Janeiro para fazer os estudos ginasiais e secundários em regime de internato no Colégio São José, dos maristas. Lê os clássicos da literatura portuguesa e francesa, e descobre sua paixão e vocação para a poesia nos Sermões do padre Antônio Vieira.
1929- Nasce Abílio Leite de Barros, em Corumbá, o último dos cinco irmãos de Manoel. Antes dele, Antonio Pompeo Leite de Barros, nascido em 1915; Ana Maria Leite de Barros, em 1919; Neuza Leite de Barros, em 1920; e Eudes Leite de Barros, em 1926.
1934- É aprovado para o curso de Direito. Influenciado por Camões, escreve cerca de 150 sonetos. Entra em contato com a obra de autores modernistas como Raul Bopp, Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira.
1935- Filia-se ao Partido Comunista, do qual se desliga em 1945, após a aliança de Luís Carlos Prestes com o poder. Participa de atividades clandestinas na Juventude Comunista e tem o manuscrito de seu primeiro livro, Nossa Senhora da Minha Escuridão, apreendido pela polícia de Getúlio Vargas.
1937- Publica seu primeiro livro de poesia, Poemas concebidos sem pecado, em edição artesanal, com o apoio de Henrique Vale, no Rio de Janeiro.
1940-1941- Vai para o Mato Grosso, onde recusa a direção de um cartório oferecido pelo pai. Retorna ao Rio de Janeiro e passa a atuar como advogado junto ao Sindicato dos Pescadores.
1942- Publica Face imóvel.
1943-1945- Viaja a Nova York, onde frequenta cursos de cinema e pintura no MoMA. Conhece Poeta em Nueva York, de García Lorca, e a obra de poetas e escritores de língua inglesa como T. S. Eliot, Ezra Pound e Stephen Spender. Viaja pela América do Sul (Bolívia e Peru) e pela Europa (Roma, Paris, Lisboa).
1947- Casa-se com Stella dos Santos Cruz, com quem teve três filhos: Pedro Costa Cruz Leite de Barros, em 1948; Martha Costa Cruz Leite de Barros, em 1951; e João Wenceslau Leite de Barros, em 1955.
1949- Falece seu pai, João Wenceslau de Barros.
1956- Publica Poesias.
1958-1959- Herda fazenda no Pantanal mato-grossense. A conselho da esposa, decide retornar com a família para o Mato Grosso para administrar a propriedade e desenvolver a atividade de pecuarista.
1961- Publica Compêndio para uso dos pássaros, com desenhos de João, seu filho, então com cinco anos, na capa e contracapa. O livro conquista o Prêmio Orlando Dantas, do Diário de Notícias, Rio de Janeiro.
1969- Publica Gramática expositiva do chão. O livro conquista o Prêmio Nacional de Poesia em Brasília e o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal.
1974- Publica Matéria de poesia. Passa a ser lido e comentado por escritores como Millôr Fernandes, Fausto Wolff, Antônio Houaiss, João Antônio e Ismael Cardim.
1982- Publica Arranjos para assobio, com capa de Millôr Fernandes. É premiado pela APCA, a Associação Paulista de Críticos de Arte.
1984- Falece sua mãe, Alice Pompeu Leite de Barros.
1985- Publica Livro de pré-coisas.
1989- Publica O guardador de águas.
1990- Publica Gramática expositiva do chão (poesia quase toda). A edição tem prefácio de Berta Waldman, ilustrações de Poty e inclui todos os livros de poesia de Manoel publicados até o momento. Recebe diversos prêmios: Prêmio Jabuti na categoria Poesia, por O guardador de águas; Grande Prêmio APCA de Literatura; e Prêmio Jacaré de Prata, da Secretaria de Cultura de Mato Grosso do Sul, como melhor escritor do ano.
1991- Publica Concerto a céu aberto para solos de ave, com capa e vinhetas de Siron Franco.
1993- Publica O livro das ignorãças em duas edições: uma edição comercial e outra de 300 exemplares, numerados e assinados pelo autor, para a Sociedade dos Bibliófilos do Brasil.
1996- Publica Livro sobre nada, com capa e ilustrações de Wega Nery. A Sociedade dos Bibliófilos do Brasil, sob curadoria e apresentação de José Mindlin, publica a antologia O encantador de palavras, com ilustrações de Siron Franco. A revista alemã Alkzent publica Das Buch der Unwissenheiten, tradução de Kurt MeyerClason de O livro das ignorãças. Recebe o Prêmio Alphonsus de Guimaraens, da Biblioteca Nacional, por O livro das ignorãças.
1997- Recebe o Prêmio Nestlé de Literatura, por Livro sobre nada.
1998- Publica Retrato do artista quando coisa, com capa e ilustrações de Millôr Fernandes. Recebe o Prêmio Nacional de Literatura, do Ministério da Cultura, pelo conjunto da obra.
1999- Publica o livro infantil Exercícios de ser criança, ilustrado com bordados de Antônia Zulma Diniz, Ângela, Marilu, Martha e Sávia Dumont sobre desenhos de Demóstenes Vargas.
2000- Publica Ensaios fotográficos. É lançada em Portugal a antologia O encantador de palavras. Recebe diversos prêmios: Prêmio Cecília Meireles, do Ministério da Cultura, pelo conjunto da obra; Prêmio Pen Clube do Brasil de melhor livro de poesia; Prêmio ABL de Literatura Infantil e Prêmio Odylo Costa Filho, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, por Exercícios de ser criança.
2001- Publica Tratado geral das grandezas do ínfimo. Publica o livro infantil O fazedor de amanhecer, com ilustrações de Ziraldo.
2002- Recebe o Prêmio Jabuti na categoria Livro do Ano Ficção, por O Fazedor de amanhecer. É lançada em Málaga, Espanha, a edição bilíngue Todo lo que no invento es falso (Antología), com tradução e prefácio de Jorge Larrosa.
2003- Publica Memórias inventadas: a infância e o livro infantil Cantigas por um passarinho à toa, com ilustrações de Martha Barros. Publica na França La parole sans limites (une didactique de l’invention), tradução de Celso Libânio e O livro das ignorãças, com ilustrações de Cícero Dias e capa de Martha Barros.
2004- Publica Poemas Rupestres. Recebe o Prêmio Odylo Costa Filho, da FNLIJ, por Cantigas por um passarinho à toa.
2005- É publicado na Espanha, em catalão, o livro Riba del dessemblat: Antologia poética, com tradução e prólogo de Albert Roig. Recebe o Prêmio APCA de Literatura na categoria Poesia, por Poemas rupestres.
2006- Publica Memórias inventadas: a segunda infância, com ilustrações de Martha Barros. Recebe o Prêmio Nestlé de Literatura, por Poemas rupestres.
2007- Publica o livro infantil Poeminha em Língua de Brincar, com ilustrações de Martha Barros. É publicado em Portugal Compêndio para uso dos Pássaros – Poesia reunida, 1937-2004. Morre seu filho, João Wenceslau Leite de Barros.
2008- Publica Memórias inventadas: a terceira infância, com ilustrações de Martha Barros. Este livro conquista o Prêmio APCA de Literatura na categoria Memória.
2009- Recebe o Prémio Sophia de Mello Breyner Andresen, atribuído pela Câmara Municipal de São João da Madeira e pela Associação Portuguesa de Escritores (APE), por Compêndio para uso dos Pássaros – Poesia reunida, 1937-2004.
2010- Publica Menino do Mato. Publica Poesia Completa no Brasil e em Portugal. Recebe o Prêmio Bravo! Bradesco Prime de Cultura como melhor artista do ano.
2011- Publica Escritos em verbal de ave.
2012- Recebe o Prémio de Literatura Casa da América Latina/Banif 2012 de Criação Literária, Lisboa, por Poesia completa e o Prêmio ABL de Poesia, por Escritos em verbal de ave.
2013- Publica seu último poema, A turma. Morre seu filho Pedro Costa Cruz Leite de Barros.
2014- Falece em 13 de novembro de 2014, em Campo Grande (MS).
Relação de obras
Poemas concebidos sem pecado [1937]
Face imóvel [1942]
Poesias [1956]
Compêndio para uso dos pássaros [1961]
Gramática expositiva do chão [1969]
Matéria de poesia [1974]
Arranjos para assobio [1982]
Livro de pré-coisas [1985]
O guardador de águas [1989]
Concerto a céu aberto para solos de ave [1991]
O livro das ignorãças [1993]
Livro sobre nada [1996]
Retrato do artista quando coisa [1998]
Ensaios fotográficos [2000]
Tratado geral das grandezas do ínfimo [2001]
Poemas rupestres [2004]
Menino do mato [2010]
Escritos em verbal de ave [2011]
MEMÓRIAS INVENTADAS
A infância [2003]
A segunda infância [2006]
A terceira infância [2008]
LIVROS INFANTIS
Exercícios de ser criança [1999]
O fazedor de amanhecer [2001]
Cantigas por um passarinho à toa [2003]
Poeminha em Língua de brincar [2007]
O Espaço Manoel de Barros foi criado para homenagear e divulgar as obras do poeta sul-mato-grossense. Localizado na Fundação Manoel de Barros, no ambiente encontram-se suas obras, fotos exclusivas que retratam um pouco de sua vida, bem como alguns dos prêmios conquistados em tantos anos dedicados a poesia. Agende uma visita pelo telefone (67) 3384-8042 e venha conhecer um pouco mais da história do nosso “menino” Manoel!